Agente Penitenciário
- Mas aqui, com 2.200 detentos, 25 por cela, onde cabem
4, quantos agentes penitenciários estão trabalhando neste momento?
- 10.
No final de novembro fui para Campo Grande participar de
audiência pública sobre o trabalho dos operadores penitenciários e o sistema
prisional de MS. Cheguei um dia antes para conhecer algumas unidades prisionais
da região. Fui bem recebido pelos agentes, cujo sindicato promovia a audiência,
bem como pelo diretor da AGEPEN, órgão que administra o sistema. Locais
exemplares me foram mostrados, como a Unidade do Semiaberto da Gameleira, com
900 detentos, a absoluta maioria trabalhando externamente em empresas, sob as
normas legais. Aquela unidade não tinha cheiro de prisão e os índices de
reincidência eram insignificantes. Porém, quando entrei na outra unidade,
chamada Máxima, com detentos do regime fechado, percebi a gravidade de tudo.
Superlotação aliada à falta de higiene, trabalho, estudo, recursos
humanos. Uma realidade brasileira a bem da verdade. Segundo pesquisa do Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA, há no país uma cultura de encarceramento
em massa, aliada a uma hegemonia política em torno da utilização da prisão
como forma eficaz para incapacitar infratores. Por outro lado, não há plano de
gestão para o sistema. Como consequência, a superlotação transforma as prisões
em campos de concentração.
Na audiência pública, repleta de agentes penitenciários
ansiosos, precisei encontrar serenidade. O respeito aos direitos humanos não é
opção mas obrigação de todos os atores do sistema de justiça criminal. É
preciso desconstruir a cultura de encarceramento em massa com alternativas
penais e assim reduzir a superlotação. Especialmente, é fundamental melhorar a
infraestrutura e os recursos humanos das unidades. Cabe ao Governo de MS se
sensibilizar e curar a ferida desse sistema, valorizando o agente
penitenciário, de forma inteligente. Que não espere ser denunciado perante
organismos internacionais por violação aos direitos humanos, como ocorreu no
Maranhão e RS. 10 agentes para cuidar de 2.200 detentos é uma
vergonha. Viver num mundo não violento significa buscar igualdade social e
respeito à dignidade da pessoa humana dentro e fora das prisões; significa que
a classe dos agentes penitenciários deve sair da invisibilidade.
João Marcos Buch
Juiz de Direito da Vara de
Execuções Penais e Corregedor do Sistema Prisional da Comarca de Joinville - SC
Publicado em 11 de dezembro de 2015, no jornal A Notícia (SC), Grupo RBS (Rede Globo).
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