Representantes de movimentos
sociais, dos agentes penitenciários e da sociedade civil rejeitaram, nesta segunda-feira
(7), em audiência pública, na CDH (Comissão de Direitos Humanos e Legislação
Participação), o Projeto de Lei do Senado (PLS) 513/2011, que define normas
para privatização de presídios, por meio de parcerias público-privadas (PPPs)
para a construção e gestão de estabelecimentos penais.
Eles pedem que a proposta, que
integra a Agenda Brasil, seja arquivada ou passe por um debate mais amplo.
Atualmente, o projeto do senador Vicentinho Alves (PR-TO) está na Comissão
Especial do Desenvolvimento Nacional, o que garante uma votação ágil. Se
aprovado, ele seguirá diretamente para o Plenário.
Atendendo aos apelos dos
participantes do debate, o senador Paulo Paim (PT-RS) apresentou requerimento
para que o PLS 513/2011 seja encaminhado à CDH, à CAS (Comissão de Assuntos
Sociais) e à CCJ (Comissão de Constituição e Justiça).
“Não há concessão referente a
esse projeto; não há meio termo, não há substitutivo e não há caminho
alternativo. O caminho é derrotar esse projeto”, disse Paulo César Malvezzi
Filho, assessor jurídico da Pastoral Carcerária.
“Mato Grosso do Sul vai trazer
servidores para mobilização em Brasília”, frisou o presidente do Sinsap/MS,
André Luiz Garcia Santigo. Durante a audiência pública, hoje, Santiago sugeriu uma
paralisação nacional que está sendo discutida pelas lideranças sindicais do
país. “Este é um momento importante de conscientização da categoria.”
Durante a audiência, debatedores
reconheceram que o sistema prisional enfrenta problemas como superlotação,
celas sem condições de higiene e os presídios dominados por facções criminosas,
mas rechaçaram a privatização dos presídios como solução.
“Esse não é um debate que deve
ser feito de forma açodada. A inclusão desse tema na Agenda Brasil certamente
não é um ganho para o estado brasileiro”, disse o diretor-geral do Departamento
Penitenciário Nacional, Renato Campos Pinto De Vitto.
Encarceramento em massa
Segundo o Depen, o Brasil ocupa o
quarto lugar no ranking dos países com maior população carcerária do mundo. São
cerca de 600 mil pessoas presas atualmente. Em 20 anos (1992-2012), essa
população aumentou em 380%. O temor é de que, com a privatização, a taxa de
crescimento aumente ainda mais.
Para o presidente do Conselho
Nacional de Política Criminal e penitenciária, Alamiro Velludo Salvador Netto,
a crise do sistema prisional é resultado da política criminal brasileira de
encarceramento em massa.
“Privatiza-se para que o poder
privado consiga aumentar os seus lucros. Portanto, privatizar o sistema
prisional significa buscar mais vagas; e buscar mais vagas significa buscar
mais presos. E, nesse sentido, a privatização inexoravelmente vem com um projeto
de aumento do número ou aumento do número de pessoas que compõem a população
prisional.”
A CNBB (Conferência Nacional de
Bispos do Brasil) também avalia que a ineficiência do sistema prisional não
pode levar à privatização. “O ser humano jamais pode ter sua
dignidade aviltada, pois lucro e pena não combinam. Um sistema carcerário
privatizado abre possibilidades para mais e maiores penas” salientou Carlos
Alves Moura, ao ler nota da CNBB sobre o tema.
Custos
Um dos argumentos frequentemente
levantado por defensores da privatização é de que a medida garantiria a redução
dos custos do Estado com os presos, o que foi rebatido durante a audiência
pública. Enquanto nas penitenciárias públicas o custo mensal varia de R$ 1.300
a R$ 1.700 por preso, em Ribeirão das Neves, primeira penitenciária privada do
país, o repasse estatal é de R$ 2.700.
“O Estado está pagando mais para
fazer a mesma coisa. E a diferença disso é simplesmente a margem de lucro do
administrador. Então, não faz qualquer sentido que a gente aposte em um modelo
mais caro e que, se não é pior, é a mesma coisa do que o modelo público”,
criticou Bruno Shimizu, coordenador auxiliar do Núcleo Especializado de
Situação Carcerária da Defensoria Pública do Estado de São Paulo.
Os presídios privados também não
melhoram necessariamente as condições de vida dos presos segundo Pétalla
Brandão Timo, da Conectas Direitos Humanos.
“Eu posso mencionar aqui o
exemplo do sistema capixaba, do Espirito Santo, ou seja, nas unidades que são
administradas por empresas, os detentos têm regimes desproporcionais de
confinamento, permanecendo trancafiados em celas por mais de 23 horas, tendo
direito apenas a 30 segundos de banho diário, segundo essa lógica norteada pela
redução de custos.”
Inconstitucionalidade
Debatedores afirmaram ainda que o
projeto em análise no Senado é inconstitucional e delega à iniciativa privada a
função mais primitiva do estado, que é o poder punitivo.
“O projeto de lei viola
frontalmente o disposto no art. 144 da Constituição Federal, que acomete ao
Estado a potestade da gestão da segurança pública, estando aí incluídos
evidentemente tanto a imposição quanto o acompanhamento de penas aflitivas,
como é a pena privativa de liberdade, argumentou Eduardo Galduróz, da AJD (Associação
de Juízes pela Democracia).
Agentes penitenciários avaliam
que a privatização de presídios pode representar redução salarial para esses
profissionais. “Precisamos discutir também qual
a importância do agente penitenciário, uma categoria que até hoje não é
reconhecida pela Constituição do Brasil, não tem uma regulamentação que diz o
que ele é, o que ele faz, qual a importância do seu papel, então nós temos que
ter também mais seriedade com o agente penitenciário brasileiro”, reiterou
Leandro Allan Vieira da Federação Brasileira dos Servidores Penitenciários.
Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
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